I
A realidade
Que vislumbro:
O próprio vislumbre é o motivo
Da realidade. Não preciso
Ter pressa nesta ciência
De observação...
Os resultados
Só podem ser
Analisados
Com calma e ao longo
De muito tempo. Tomo nota,
Meticulosamente, das minhas
Sensações, pois o que quero
É que meu estudo possa ser
Um auxílio didático para aqueles
Que começaram no curso depois
De mim, da mesma forma que foi
O estudo de outros uma grande fonte
De alegria onde bebi quando estive sequioso.
Tomo nota, meticulosamente, das minhas
Sensações - são amplas: sou artista, me alimenta
Uma sensibilidade que só pode ser alcançada
Com muita paciência, com muita suavidade,
Com muita atenção. Calma quando a hora
For hora de amar, calma quando a hora
For hora de sofrer, calma quando a hora
For hora qualquer: calma, porque assim
É que se abre absolutamente os olhos.
II
O ser humano tem na alma
A ânsia do prazer imediato:
Que dificuldade, homem do século
Vinte e um, tu tens em dominar
A áurea arte
De cultivar. Queres tudo agora:
A carne, a alegria, a glória inteira
De estar vivo. Nada sabes
Sobre o trabalho árduo, sobre o trabalho
Verdadeiramente árduo, sobre viver e amar
Na luz imensa do trabalho:
Lapida a pedra pouco a pouco, sem pressa
Para que fique perfeita , sem ânsia de recompensa
Pelo mármore trabalhado - ele servirá apenas
Para enfeitar a cova
Desta casca humana
E inocente
Que habitas.
Lapida a pedra
Pouco a pouco:
A tua obra é uma carta
De ti mesmo à posteridade
- Contará tuas glórias, tuas falhas magnas,
Ensinará a quem necessite, inadvertidamente,
Que havia esperança
Em cada fôlego
Que tomaste.
Ensinará a quem necessite, inadvertidamente,
Que havia esperança
Em cada fôlego
Que tomaste.