Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

domingo, 3 de agosto de 2014

Me esforço profundamente
Para me contentar com o que me cerca,
Para me contentar com o que há,
Para me contentar em ser:
De tanto esforço, consigo,
Me contento, me agrado,
Não reclamo...

Mas, ai de mim, como dói
Cair lá de cima dessa religião
Estúpida que é a felicidade
E dar de cara com o chão duríssimo,
Dar de cara consigo mesmo
Diante da turba pronta
Para o linchamento: o ladrão
Tentou ser mais esperto que todos,
Tentou fugir por cima dos telhados,
Porém caiu de cara, quebrou dois dentes
E apanhou muito
Dos populares... Pobre
Gatuno que tentou
Ser mais esperto
Que os populares...

Não sabias que a vida em cima dos muros
É escorregadia? Após a inevitável queda,
A dor surge e o espírito enorme da alegria é
Banalizado: resta apenas a estética da queda,
Ainda que seja muito óbvio que seu valor é
Quase nulo – eis: a beleza resguarda
Principalmente quem sofre de orgulho.

Se esforçar verdadeiramente

À felicidade é uma fuga soturna
Por cima dos telhados
Do mundo...

Me esforço. A principal preocupação
É não me preocupar. A dificuldade
É impensável: se eu cair de novo
Pode ser que eu quebre o pescoço, morra,
E eu não quero isto...
Não sabias
Que a vida
Em cima dos muros é
Escorregadia? A queda
É inevitável:
Saberás.

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