Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

domingo, 28 de setembro de 2014

Duas canções ao final de setembro.

I

Derramei
Um lágrima por ti
Nesta tarde repleta
De ventos. Me espanto:
A poesia brota de meu peito
Pétreo como brotam as flores
E os frutos quando é propícia
A estação. Olha: não por acaso,
Ingrid, amada, ontem mesmo
Começou a primavera.

Hoje
Está arejado
O pasto que ontem
A neve
Cobria.


II

A fragilidade e a abundância, a plenitude,
O aroma campestre, o coito viril, a fertilidade:

Todos os adjetivos
Que a primavera criou
Repousam no teu corpo.
Eis, amada: tenho uma saudade
Que só entende quem
Amou e nunca mais viu,
Mas continuou amando.
Não posso me separar
Da tua lembrança
Porque não és somente
Lembrança, és presente:

Estás, em pessoa,
Nos suaves mistérios

Deste vento primaveril.

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