Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

domingo, 19 de outubro de 2014

Às onze horas
De um sábado de primavera
Eu percebo a paz ao meu redor
Enquanto leio textos mal escritos
Sobre as múmias ancestrais
Do Egito Antigo
Até o Sudão
Antes de Cristo.

Um cachorro, negro e amado,
Dorme aos meus pés. Eu fumo
E há silêncio em torno desta sala
Do mundo. Leio e me concentro:
Atenciosamente, com muito carinho,
Desbravo estas palavras sem estilo
Sobre múmias de glórias ressecadas
E tristemente descritas - só vale a pena ler
Quando lemos desta forma,
Quando lemos
E amamos
Sem julgar.

Às onze horas
De um sábado cinza e quente
De primavera:
Silêncio...

Não existe
Expressão pobre
Quando lemos com atenção:
Tudo o que foi escrito
Pode ensinar algo,
E não somente nos livros
Há palavras desenhadas
- Do céu ao inferno
Um único verbo, da luz
Às trevas
Um enorme
Poema.

Todos os poetas, afinal,
São paupérrimos,
Solitários,
Milagrosos...

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