Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

domingo, 12 de outubro de 2014

Já não existem
Coincidências
Entre nós dois.
Que me importa
As notícias do teu
Mundo jogadas
Na calçada dos meus dias,
Então? Que me importa
Se alisaste artificialmente
Os teus cabelos que amo
Desgrenhados, se pelas
Manhãs não te vejo chegar
Arfante com tua bicicleta
E teu corpo deleitado
Da pureza do calor
Escaldante do verão?


Que me importa
Se usas o mesmo
Perfume viciante,
Se continuas fumando
Em demasia, se continuas
Fraca para as bebidas,
Se não dormes em função
De pesadelos de homens
Invadindo teu quarto
Através de portais
De luz misteriosa?
Que me importa
Se gozas com outros
Os presentes que te dei
Como flores colhidas
Nos campos de uma suavidade
Que não é acessível a mais ninguém
Neste mundo?

Que me importa, Nina, criança
Tola, amada, que me importa:
Os suspiros que teu corpo dava,
Os sorrisos que são alma e carne,
Os olhares que diziam trevas profundas,
Os acidentes no vale
Da tua alma, onde eu
Desbravei com calma
Uma natureza selvagem,
Indomável, intocada?

Que me importa?
Vem o dia das crianças
Neste mês, outubro aborrecedor,

E eu estarei como um velho abandonado
Que é muito jovem por fora para morrer.

Sussurrarei
Na cadeira de rodas
Que é meu coração
Minha dor
Pelos filhinhos
Suaves
Que não
Me deste...

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