Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

domingo, 28 de dezembro de 2014

Sendo um homem
Frequentemente sentado
No ofício do pensamento,
Pergunto-me o seguinte:
Quantos dias adiante,
Quantas frutas no pomar?

Meu caderno tem folhas
Em branco, um número
Imensurável, porém definitivamente
Finito. Sendo um homem,
Frequentemente, sentado
No escritório de pensar,
Pergunto-me: eu?
Realmente eu?
Por que não outro eu?
Quantos dias adiante,
Quantas folhas no caderno,
Quantas frutas no pomar?

Já tomei goles largos, largos
De vida, embebedei-me,
Ainda assim não
Saciei esta sede profunda
Que amarga-me.
Números inúteis, questões
Inúteis. Não podendo conter
Em mim todo o conhecimento
Do universo, qual a utilidade
De uma parcela ínfima?
Onisciência
Ou morte -
Depois banalidade
Da onisciência
Ou carisma enigmático
Da morte...

Quantos dias
Adiante?

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