Não quero saber
Dos minutos que passam. Não
Quero saber da literatura, das noites
Se desenrolando lindíssimas nas ruas,
Das serenatas, dos sonetos, das gramáticas,
Dos livros de romance. Não quero saber
Das virgens, não quero saber dos poetas velhos,
Das crianças traquinas, da glória da vida. Não quero
Os campos, não quero a luz do sol, as ervas nos cantos,
Os fungos perdidos, as sombras dos pátios, as casas
De madeira da infância. Não quero o cheiro da saudade,
Não me importam as lembranças metodicamente inexatas,
Não são nada senão criações quiméricas, não são nada
Senão um conto muito antigo que se conta
A toda juventude sem exceção. Não quero saber
De inocências, de medos, de delírios, de fôlegos,
De palpitares de peito: há um lugar muito bom
Para tudo isto no fundo de um baú. Há um lugar
Muito bom para tudo isto no fundo do inferno,
No canto das memórias imemoráveis, no subconsciente
Desnecessário e feio.
Afogarei no esquecimento de mim mesmo a poesia,
Todas as namoradas, todos os planos, todas as adolescências
Do mundo material e rude. Não me importo com o que não
Me dá lucro algum: torno a arte uma despreocupação,
Darei a tudo muita beleza, mas não quero pensar enquanto
Trabalho. Que se danem a forma, os conceitos, os argumentos,
As certezas discursadas. Que se danem os estereótipos, as cartas
Marcadas, as purezas tolas e a incapacidade de romper barreiras:
Eis aqui toda a minha subjetividade – nada é necessário, nada é
Insubstituível, construirei a casa da alegria
Com aquilo que me der de bom grado
A vida.
De resto, roubarei, com certeza roubarei
- E sem nenhum arrependimento - do mundo o que for
Necessário à minha alimentação parca e rara: sou um cacto,
Sou um cacto que viverá séculos, ainda que coma pouco,
Ainda que só beba água furtada das chuvas.
Sou um cacto – deixarei da minha pobreza
Desértica umas flores tão lindas, mas tão lindas,
Que será improvável que acreditem os céticos
Que nasceram elas entre tais espinhos:
Fazer muito
Com o pouco
Que se tem
É o dom
Dos sábios.
Dos minutos que passam. Não
Quero saber da literatura, das noites
Se desenrolando lindíssimas nas ruas,
Das serenatas, dos sonetos, das gramáticas,
Dos livros de romance. Não quero saber
Das virgens, não quero saber dos poetas velhos,
Das crianças traquinas, da glória da vida. Não quero
Os campos, não quero a luz do sol, as ervas nos cantos,
Os fungos perdidos, as sombras dos pátios, as casas
De madeira da infância. Não quero o cheiro da saudade,
Não me importam as lembranças metodicamente inexatas,
Não são nada senão criações quiméricas, não são nada
Senão um conto muito antigo que se conta
A toda juventude sem exceção. Não quero saber
De inocências, de medos, de delírios, de fôlegos,
De palpitares de peito: há um lugar muito bom
Para tudo isto no fundo de um baú. Há um lugar
Muito bom para tudo isto no fundo do inferno,
No canto das memórias imemoráveis, no subconsciente
Desnecessário e feio.
Afogarei no esquecimento de mim mesmo a poesia,
Todas as namoradas, todos os planos, todas as adolescências
Do mundo material e rude. Não me importo com o que não
Me dá lucro algum: torno a arte uma despreocupação,
Darei a tudo muita beleza, mas não quero pensar enquanto
Trabalho. Que se danem a forma, os conceitos, os argumentos,
As certezas discursadas. Que se danem os estereótipos, as cartas
Marcadas, as purezas tolas e a incapacidade de romper barreiras:
Eis aqui toda a minha subjetividade – nada é necessário, nada é
Insubstituível, construirei a casa da alegria
Com aquilo que me der de bom grado
A vida.
De resto, roubarei, com certeza roubarei
- E sem nenhum arrependimento - do mundo o que for
Necessário à minha alimentação parca e rara: sou um cacto,
Sou um cacto que viverá séculos, ainda que coma pouco,
Ainda que só beba água furtada das chuvas.
Sou um cacto – deixarei da minha pobreza
Desértica umas flores tão lindas, mas tão lindas,
Que será improvável que acreditem os céticos
Que nasceram elas entre tais espinhos:
Fazer muito
Com o pouco
Que se tem
É o dom
Dos sábios.
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