Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Uma cabeça sábia
Que caia pela guilhotina
Disse que nada se cria:
Onde está o nascimento, então?
Uma cabeça sábia
Que caia pela guilhotina
Disse que nada se perde:
Onde está a morte, então?
Uma cabeça sábia
Que caia pela guilhotina
Disse que tudo se transforma:
Eis tu e eu e tudo.

Homem altivo, terra argilosa,
Árvores antigas no bosque, insetos
Ainda desconhecidos pela ciência,
Vento e suas partículas indomáveis,
Maciez da pele dos cães,
Glória de estar vivo:
O próprio tempo é ser
E todo o ser é tempo. O que morre?
Aquilo que não nasce?

Nada morre, nada nasce. Perceber
Isto é estar livre de nascer e morrer,
Perceber isto é viver de fato.
Usa teu faro, confia nele!
Há cheiro de benevolência e serenidade
Desde o começo do que não começou...

Eu que agora
Confio e uso a razão acima da razão
Não espero e também não nego,
Não desejo, porém não afasto,
Vivo de fato sem viver:

E cada pétala ou folha que cai
Das copas às águas são arrastadas
Pelo rio onde não se constroem represas,
Pois que sempre desemboca no grande
Mar misterioso e profundo
No qual nadamos

- Também nós,
Sem saber, somos
Arrastados...

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