Motivação:

Quando decidimos estabelecer que este projeto fosse acessível ao grande público da internet, sabíamos da quantidade de pessoas que poderíamos atingir. Dizemos poderíamos porque somos cautelosos e humildes, uma vez que certamente reconhecemos a gigantesca oferta: sites de literatura de inquestionável qualidade pululam no vale fértil das redes sociais, e outros, não tão preocupados com o selo qualitativo, seguem logo atrás na semeadura das letras nesta terra de ninguém - não em menor número, paradoxalmente. A literatura, por incrível que pareça, se alastra não como uma bela cultura vegetal, como uma bisonha erva daninha, porém, procurando absorver fama mineral que alimente o ego seco da raiz. Eis no que diverge o nosso trabalho e o desta horda de escritores que têm aterrorizado os dias com seus autógrafos, espadas e lanças: não necessitamos de visibilidade. Não faz a mínima diferença o número de pessoas que visualizará este blog, faz diferença apenas o fato dele existir. A intenção é ofertar um registro fiel dos dias de um homem cuja existência foi dedicada à busca da beleza, da suavidade, da paz, do amor em todas as suas incontáveis formas, ainda que tenha sido o conflito a via pela qual viajou durante a maior parte do tempo. Venkon Sinjoro Serena reconhece em si mesmo uma expressão ímpar na literatura, ainda que este fato não mereça nem celebração nem repúdio: abre um caminho entre as matas, uma faca de prata nas mãos evoca luz, eis uma estrada! Ali segue o poeta, sozinho...

v. s. s.

terça-feira, 15 de julho de 2014

O olho da madrugada
Talvez tenha um nome.
Pesquiso a redundância
Do silêncio: nada encontro.
Talvez isto seja absolutamente
Muito mais do que posso querer
Da vida.

O olho da madrugada
Certamente tem um nome.
Há mistério por trás do mistério,
Há sussurros por trás dos sussurros.
Alguém deixou aberta a porta, pronto:
Entraram estes pensamentos estranhos
Como cães fazendo farra descontroladamente
Sem que ninguém os consiga enxotar de volta
À rua.

A questão não é a questão,
Mas o motivo da questão. Não me doem
A resposta, não mastiguem a minha comida,
Por favor! Me mostrem, porém, a necessidade
E o fundamento da pergunta. Perguntar
É estar vivo!

O olho da madrugada é uma raiz,
O olho da madrugada é subjetivo e parco,
É uma sombra serena sobre os muros da noite
O olho da madrugada, a cerca que cerca destinos,
A foice que ceifa vida, a flor que germina os ares,
Floresce, amadurece, reproduz e fenece e morre,
Nunca cessa, contudo...

Me doem, agora, se possível,
A cor das perguntas sem motivo,
Das paixões das respostas que nunca terei,
Das paixões das respostas que nunca precisei,
Me doem, agora, e somente isto há de ser
Beleza suficiente para que eu me emocione
E possa pensar que é farta e cômoda
A vida.

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